RESSACAS
Sobre
No meio caminho havia uma pedra.
Havia uma...
Sabia não tropeça-la, já não era tão estupido.
mas algo naquela pedra chamou atenção.
retirou-a do caminho
retirou-se do caminho.
E nesse ato mudou o destino
seu destino,
da pedra,
do caminho,
e do poema.
Matéria solida, dura e imóvel.
Silenciosa
Pedra/Corpo.
Algo interno lhe movimenta
Corpo/Pedra.
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Ambas se olhavam.
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não resistiu e rompeu-a;
queria entender a origem de seu silencio.
Rompeu o silencio com um estalo
partindo a pedra
partindo os tímpanos
partindo-se dali.
em seu interior havia um espaço;
Havia silencio
Havia invisível
Havia TUDO.
tudo mais silencioso agora.
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sentia as coisas de maneira diferente.
sentiu-se pedra.
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No meio do caminho havia...
um corpo.
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[no meio do caminho]
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O corpo é provisório, as coisas e pessoas
mas tudo é para sempre.
Um piscar, um sopro, um sono.
Um único som, que compõe essa orquestra viva.
Talvez nunca mais te veja quando a música acabar.
Talvez eu nunca mais me veja como sou.
E me afasto de minha cidade corpo.
Agora ela está pequena longe.
A perspectiva muda, conforme muda (sem som) a perspectiva.
Se tá pequeno, tudo mais está pequeno.
Olho para trás e já não a vejo, e penso que talvez ela já não exista.
Já não exista, mas sei de sê-la eterna também, onde eu já não habito.
muitas pessoas viveram lá em mim
onde eu era um estrangeiro.
Todo lugar é provisório.
Todas cidades são.
Todos os corpos...
são corpos cidades!
Das muitas pessoas que habitam em cada um
estamos sempre sozinhos.
E o que fazem esse corpo, essa cidade serem povoados
é a capacidade de se receber.
Talvez quem de má fé se achega, se esvai.
Se vai.
vai...
vai habitar alguma outra cidade fantasma qualquer.
Cidades ocas de gente, que abrigam gentes ocas.
Mas cheguei há pouco, ainda estou me povoando.
E sinto que não sou daqui.
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​
​
[Corpos cidades]

